Marco Chagas
“O ciclismo atravessa agora um dos períodos mais negros da sua existência”
Antigo ciclista, treinador e atual comentador da RTP, Marco Chagas esteve sempre ligado à modalidade. Deixou de correr há mais de 20 anos, numa altura em que eram feitos grandes sacrifícios por amor à causa, contudo afirma que a situação vivida atualmente “é tão ou mais grave do que quando iniciou a carreira”. Lamenta ainda a perda de alguns jovens valores, que não tendo oportunidades para singrar veem-se obrigados a seguir outros rumos. Apesar da crise e da perda de cobertura mediática, Marco Chagas considera que o ciclismo continua a despertar paixões na maioria do público português.
O que o levou ao ciclismo profissional?
A minha entrada na modalidade prende-se, inicialmente, com uma ligação familiar. O meu tio, Ramiro Martins, foi corredor e chegou a participar nos Jogos Olímpicos em Roma. Penso que isso me marcou.
Em 2008 afirmou em entrevista à revista Dada: “o ciclismo nunca foi um desporto muito bem pago e naquela altura pior ainda”. E agora, como estamos?
Agora estamos outra vez mal. As coisas entretanto complicaram-se, sobretudo a nível europeu. Portugal passa por graves problemas, e os corredores de bicicleta, neste momento, quase que pagam para correr. Ou seja, a situação é tão ou mais grave do que quando iniciei a minha a carreira. Nessa altura, quem queria ser corredor tinha que fazer grandes sacrifícios e contar com o apoio familiar, porque nem sequer havia compensação monetária. E hoje, infelizmente, as coisas não estão melhores.
Temos assistido a uma gradual redução de equipas no pelotão nacional, nomeadamente no que às elites diz respeito, e também a uma consecutiva alteração de patrocinadores. Como justifica este fenómeno?
A situação atual em termos nacionais e europeus faz com que as principais empresas e autarquias, que eram as principais fontes de manutenção do ciclismo, estejam em dificuldades. Portanto, hoje, o ciclismo por não ter receitas próprias e ser feito na estrada, necessita mais que nunca de patrocinadores.
Que caminhos aponta para a resolução destes problemas?
Eu creio que, por um lado, vai passar muito pela massificação. Há muita gente a andar de bicicleta e isso é um fenómeno incontornável, o que se justifica até pelo custo dos próprios combustíveis. Alguns incluem mesmo a bicicleta na prática desportiva, podendo marcar o nascimento de uma nova era no ciclismo. Isso já acontece nas provas de BTT e a estrada vai seguramente tirar partido disso, havendo uma conjugação com a Federação e as outras entidades envolvidas. É como se começássemos do zero. Mas podemos repensar o ciclismo que atravessa agora um dos períodos mais negros da sua existência. Ainda assim, tenho esperança que daqui a alguns anos volte de novo a ter uma grande força.
Há futuro para os ciclistas em Portugal?
Um grande número dos corredores de qualidade que temos em Portugal vão-se perder. Neste período, alguns já se perderam e outros vão tomar outros caminhos, ou seja, pensar noutras saídas profissionais. É uma pena que isso esteja a acontecer. No entanto, espero que seja transitório.
De que maneira encara a atual cobertura mediática dada à modalidade?
O futebol cada vez mais tem ocupado as páginas dos jornais. Nós temos três diários desportivos e imagine-se que têm 28 páginas, dessas existem por exemplo 21 que só falam de futebol e as outras irão englobar depois as modalidades todas. À exceção da Volta a Portugal ou da realização de outro grande evento, pouco mais se fala do ciclismo.
Como correu no Tour de France e tendo em conta que esta é a prova máxima do ciclismo, a nível de profissionalismo encontra algumas diferenças entre o panorama internacional e o nacional?
Falar da Volta à França é falar num dos maiores eventos desportivos do mundo. O ciclismo tem nesta prova algo que só se compara aos Jogos Olímpicos ou a um Mundial de futebol. Em termos de eventos desportivos, não há outro que tenha tanto peso e protagonismo durante tanto tempo. É uma organização incrível com um funcionamento de grande envergadura e que comporta custos elevados. A comparação, mesmo com a nossa maior prova, é pequena. No entanto, nos últimos anos o ciclismo em Portugal, no que se refere à organização, melhorou também muito. Hoje, a Volta a Portugal, na sua estrutura e na forma como se apresenta, não envergonha ninguém.
Falando na Volta a Portugal, será que esta tem hoje o mesmo impacto que tinha há 20 anos atrás, quando corria?
Continua a ter impacto, mas não será exatamente o mesmo, devido à tal perda de atenção da comunicação social. E se é verdade que as transmissões televisivas, a partir dos anos 90, se tornaram num excelente meio de ajuda, por outro lado perdeu na componente de apoio popular. O facto de o Benfica, Porto e Sporting se terem afastado da modalidade, levou ao distanciamento de muita gente. Nesse aspeto, o ciclismo perdeu muito do impacto que tinha no meu tempo de corredor, quando essas equipas estiveram ligadas a este desporto.
Então não se poderá dizer que o ciclismo é ainda hoje a segunda modalidade mais popular em Portugal?
O ciclismo, apesar de ter perdido peso nos media e ter alguns problemas, nomeadamente com o doping, entre outros que têm marcado a modalidade, continua a contar com um grande apoio e paixão pela maioria dos portugueses. De tal forma, se olharmos para além do futebol, também não encontramos outro desporto com tanta visibilidade.
A minha entrada na modalidade prende-se, inicialmente, com uma ligação familiar. O meu tio, Ramiro Martins, foi corredor e chegou a participar nos Jogos Olímpicos em Roma. Penso que isso me marcou.
Em 2008 afirmou em entrevista à revista Dada: “o ciclismo nunca foi um desporto muito bem pago e naquela altura pior ainda”. E agora, como estamos?
Agora estamos outra vez mal. As coisas entretanto complicaram-se, sobretudo a nível europeu. Portugal passa por graves problemas, e os corredores de bicicleta, neste momento, quase que pagam para correr. Ou seja, a situação é tão ou mais grave do que quando iniciei a minha a carreira. Nessa altura, quem queria ser corredor tinha que fazer grandes sacrifícios e contar com o apoio familiar, porque nem sequer havia compensação monetária. E hoje, infelizmente, as coisas não estão melhores.
Temos assistido a uma gradual redução de equipas no pelotão nacional, nomeadamente no que às elites diz respeito, e também a uma consecutiva alteração de patrocinadores. Como justifica este fenómeno?
A situação atual em termos nacionais e europeus faz com que as principais empresas e autarquias, que eram as principais fontes de manutenção do ciclismo, estejam em dificuldades. Portanto, hoje, o ciclismo por não ter receitas próprias e ser feito na estrada, necessita mais que nunca de patrocinadores.
Que caminhos aponta para a resolução destes problemas?
Eu creio que, por um lado, vai passar muito pela massificação. Há muita gente a andar de bicicleta e isso é um fenómeno incontornável, o que se justifica até pelo custo dos próprios combustíveis. Alguns incluem mesmo a bicicleta na prática desportiva, podendo marcar o nascimento de uma nova era no ciclismo. Isso já acontece nas provas de BTT e a estrada vai seguramente tirar partido disso, havendo uma conjugação com a Federação e as outras entidades envolvidas. É como se começássemos do zero. Mas podemos repensar o ciclismo que atravessa agora um dos períodos mais negros da sua existência. Ainda assim, tenho esperança que daqui a alguns anos volte de novo a ter uma grande força.
Há futuro para os ciclistas em Portugal?
Um grande número dos corredores de qualidade que temos em Portugal vão-se perder. Neste período, alguns já se perderam e outros vão tomar outros caminhos, ou seja, pensar noutras saídas profissionais. É uma pena que isso esteja a acontecer. No entanto, espero que seja transitório.
De que maneira encara a atual cobertura mediática dada à modalidade?
O futebol cada vez mais tem ocupado as páginas dos jornais. Nós temos três diários desportivos e imagine-se que têm 28 páginas, dessas existem por exemplo 21 que só falam de futebol e as outras irão englobar depois as modalidades todas. À exceção da Volta a Portugal ou da realização de outro grande evento, pouco mais se fala do ciclismo.
Como correu no Tour de France e tendo em conta que esta é a prova máxima do ciclismo, a nível de profissionalismo encontra algumas diferenças entre o panorama internacional e o nacional?
Falar da Volta à França é falar num dos maiores eventos desportivos do mundo. O ciclismo tem nesta prova algo que só se compara aos Jogos Olímpicos ou a um Mundial de futebol. Em termos de eventos desportivos, não há outro que tenha tanto peso e protagonismo durante tanto tempo. É uma organização incrível com um funcionamento de grande envergadura e que comporta custos elevados. A comparação, mesmo com a nossa maior prova, é pequena. No entanto, nos últimos anos o ciclismo em Portugal, no que se refere à organização, melhorou também muito. Hoje, a Volta a Portugal, na sua estrutura e na forma como se apresenta, não envergonha ninguém.
Falando na Volta a Portugal, será que esta tem hoje o mesmo impacto que tinha há 20 anos atrás, quando corria?
Continua a ter impacto, mas não será exatamente o mesmo, devido à tal perda de atenção da comunicação social. E se é verdade que as transmissões televisivas, a partir dos anos 90, se tornaram num excelente meio de ajuda, por outro lado perdeu na componente de apoio popular. O facto de o Benfica, Porto e Sporting se terem afastado da modalidade, levou ao distanciamento de muita gente. Nesse aspeto, o ciclismo perdeu muito do impacto que tinha no meu tempo de corredor, quando essas equipas estiveram ligadas a este desporto.
Então não se poderá dizer que o ciclismo é ainda hoje a segunda modalidade mais popular em Portugal?
O ciclismo, apesar de ter perdido peso nos media e ter alguns problemas, nomeadamente com o doping, entre outros que têm marcado a modalidade, continua a contar com um grande apoio e paixão pela maioria dos portugueses. De tal forma, se olharmos para além do futebol, também não encontramos outro desporto com tanta visibilidade.